quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Carta ao 202.

Mais um clichê adolescente para a sua lista de clichês lidos.

“Caro morador do 202, gostaria de informar-lhe que o barulho estridente que sai de seu apartamento noite adentro está incomodando a mim e a minha família. Estou a pedir a sua cooperação abaixando o volume para que eu não necessite de tomar providências de acordo com as leis regionais.”
Hm... Acho que ficou um pouco formal demais! Mas melhor deixar desse jeito... De repente a pessoa que mora lá em cima é uma pessoa muito culta, embora barulhenta.
O engraçado dessa história toda é que eu, uma garota com quase 16 anos, a pura jovialidade adolescente, reclamando de barulho. Pareço uma velha mas não é o mais engraçado de tudo... Talvez seja que o 2-0-2 seja tão eclético quanto eu, ouça de tudo um pouco. O que me faz pensar que são várias pessoas que moram lá. Totalmente diferentes: de Johnny Cash a Madonna, Iron Maiden a Chico Buarque de Holanda. Não sei o que se passa lá dentro muito bem, mas só sei que eu ao mesmo tempo gosto muito, e não tenho paciência nenhuma para escutar. Quando eu acordo, o barulho já está lá e quando eu vou dormir o barulho continua. Tanto que a maioria das vezes eu até sonho com ele! Eu acho muito esquisito, tanto que às vezes até saio de casa fingindo ser outra pessoa pra ver se aquilo não me persegue! Num dia desses, mais precisamente ontem, me deu uma vontade louca de ir ao shopping sem ninguém que eu conheço, ouvir outras coisas e outras pessoas. Deu certo, ou não. Chegando no shopping eu vi todas as pessoas com seus amigos e amores. E eu sozinha, mas não triste, eu quis isso. Eu só estava cansada, mas não conseguia descansar nunca por causa daquele vizinho insuportável!
Até que então, eu vi o cara mais lindo do mundo: Loiro, alto, forte e com um rosto muito simpático. Meu olhar se desviou por um segundo e eu encontrei um novo olhar: O segundo cara mais lindo desse mundo inteiro! Moreno, alto, olhos claros, e com um rosto tão simpático! Eu diria que ele estava sorrindo pra mim. E diria também que estava apaixonada! Então eu vi o que eu achei por um instante improvável: O homem mais lindo do mundo olhou pro segundo cara mais lindo desse mundo inteiro, suas mãos se entrelaçaram e eles saíram juntos: Simpáticos, lindos e gays. Eu não merecia isso. Não agora que eu comecei a imaginar como seria a minha vida com qualquer um deles. Não agora! Enfim, passou.
Eu me sentei e olhei a vitrine, minha cabeça estava vazia. Então eu me sentei e olhei a vitrine: Estava finalmente apaixonada! Aquela calça era simplesmente a me-lhor e eu não a largaria por nada nesse mun-do! Corri pra loja, peguei o mesmo modelo de calça só que dobrado. Agora ele era meu, ninguém tirava! Olhei a etiqueta para ver o número e vi um vislumbre do preço: R$ 1000,00. Larguei no chão! Se ninguém tirava de mim, tiro eu mesma. Onde já se viu... MIL REAIS?! Com mil reais eu compro 20 CD’s duplos importados. Muito melhor que uma calça! Comprei um sorvete. Dois reais muito bem aproveitados! Tudo o que eu queria era aquele sorvete e só aquele sorvete... Estava tão bom e gostoso e... E o que aquele sapato estava fazendo ali? Fui ao chão. Com sorvete e tudo, um papelão. Corri e me tranquei no banheiro. Eu queria morrer, minha vida estava arruinada! Encostei meu ouvido na parede do banheiro que dava pro banheiro masculino. Quem lá estaria ouvindo Amy Mcdonald? Só podia ser loucura pensar que aquele barulho conhecido – que eu amo e odeio – tivesse me perseguido até ali! Eu só podia estar sonhando, não podia ser verdade! Meu dia tinha sido agitado demais então fui pra casa. Se fosse pra ouvir aquilo, que fosse na minha casa! Foi então que eu decidi fazer essa bendita carta ao 202. Então cá estou, acabei de escrevê-la, assinei e vou entregar.
Abri a porta, chamei o elevador. O elevador chegou e eu reparei que não havia botão para o 20º andar naquele. Vou ter que ir pela escada. Estou passada. Onde já se viu não ter elevador? Subi a escada e encontrei um velho corredor com uma porta bem velha, mas com uma maçaneta nova. Como naqueles filmes de terror, sabe? Deixei a carta em cima do tapete que havia inscrito: Entre sem bater, e rápido. Estranhei, a deixei por ali mesmo e voltei pra casa. Agora ia ficar tudo bem.
Então a minha campainha tocou. O que o homem mais lindo do mundo, o segundo cara mais lindo desse mundo, o João da padaria, o Pedro da escola, o Igor do 101 e o Claudio filho do porteiro estavam fazendo ali? Com a minha carta na mão?
Foi então que eu me dei conta do que tudo aquilo significava. Aquilo nunca fui eu e sim o que eu significava. Aquele meu apartamento sempre foi algo maior, aquele apartamento era eu. Eu continha algo muito precioso em mim: Eu mesma. E então o 202, sim, o 202, a parte mais interna de mim, meu coração, minha razão de viver minhas pequenas paixões, que agora eu penso que são tudo de mim, mas que depois eu as verei e saberei que elas não fazem parte de mim, são só o apartamento acima.

*
Festinha de Ano Novo bombando lá embaixo, embora seja 4h56. Enfim, acho que eles não saem antes das 6h. Mas é a primeira vez que eu faço um post alternativo e, alternativismo está na moda (H). Como se muita gente visitasse aqui PFF --'

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Dos três mal amados.

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

Cordel sempre estará na moda.
E mesmo blogs sendo esquecidos eles ainda estarão na moda.
Feliz Natal. Eu acho que não posto até lá.
Então, hmm, quem sabe um até 2009?

Beijos ;*